quarta-feira, 26 de abril de 2023

 

 


 COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL COM A PARTICIPAÇÃO DO CORONEL ANDRADE DA SILVA, CAPITÃO DE ABRIL E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO SALGUEIRO MAIA

 

Comemorar abril é o tempo de homenagear os seus protagonistas e de repristinar os seus objetivos. 

Os jovens de então estabeleceram como objetivos descolonizar, desenvolver e democratizar. Ao longo de 49 anos muito foi feito, nem sempre bem feito e muito há para fazer.

A descolonização provocou um fluxo anormal de refugiados, aproximadamente um milhão de portugueses regressaram abruptamente ao continente e simultaneamente os novos países ficaram sob a influencia da URSS.

O desenvolvimento tarda em concretizar-se, o nosso PIB é o sétimo mais baixo da EU. Na Educação foram registados avanços significativos, no entanto hoje, temos uma geração com elevadas qualificações académicas que ou aceita baixos salários ou opta por emigrar.

Os grupos económicos agem com alguma impunidade e nos crimes de corrupção e de colarinho branco a justiça é lenta na sua atuação.  Não há democracia sem um estado de direito.

Os desafios de hoje são múltiplos e exigem a nossa atenção.

Assistimos recentemente à assinatura de um acordo, assinado na China, entre as duas potências no Médio Oriente. A República Islâmica do Irão (xiita) e o Reino da Arábia Saudita (sunita) que decidiram retomar as relações diplomáticas e reabrir as suas embaixadas no prazo de dois meses.

Os EUA indiciam ser uma potência em decadência. Se é consensual manterem a hegemonia a nível militar, nos demais critérios estão a ser ou em vias de vir a ser ultrapassados, designadamente, ao nível do desenvolvimento tecnológico. Sendo aceite que quem dominar esta área poderá ficar na liderança nas próximas décadas.

Assistimos, com algum distanciamento, a uma reconfiguração da ordem internacional.

Todos nos recordamos da Guerra do Golfo, entre agosto de 1990 e fevereiro de 1991, que teve início com uma agressão do Iraque contra o Kuwait por diferenças de interesses entre as duas nações e acabou num conflito internacional. Em 29 de novembro de 1990, a ONU emitiu uma resolução ordenando que as tropas iraquianas abandonassem o Kuwait. Os iraquianos não se retiraram do território kuwaitiano na data estipulada, e isso resultou na represália da aliança internacional a partir do dia 17 de fevereiro de 1991. Neste conflito o mundo uniu-se para restabelecer a situação.

Ainda nesta década assistimos à Guerra Civil Jugoslava, uma série de violentos conflitos bélicos ocorridos no território da antiga República Socialista Federativa da Iugoslávia. A NATO participou sem ter consultar o ONU.

Assistimos, em 2014, com distanciamento à ocupação da Crimeia pela Rússia.

Na reação à recente invasão da Ucrânia pela Rússia a mesma foi dicotómica de um lado a NATO do outro a Rússia e os seus apoiantes com a China a assumir um papel determinante. O mundo dividiu-se.

Este conflito tem demonstrado que a Europa não passa de um conjunto de países. Ao longo dos anos, por desinvestimento, tornou-se dependente em recursos energéticos baratos da Rússia e na área da defesa está dependente dos EUA e, até na confeção de máscaras para o combate à Covid19 recorremos à China.

A globalização apregoada ontem é negada pela realidade de hoje. Da globalização passamos para a desglobalização. Há mais protecionismo, mais barreiras alfandegarias. A economia é um instrumento de combate.

Recuperamos os blocos mundiais e mesmo e dentro de cada país assistimos a essa alternância entre os partidos do arco do poder. É assim nos EUA, é assim em Portugal a mesma situação se vive noutras latitudes.

Por cá com os elevados níveis de inflação, aumento das taxas de desemprego e apesar do discurso das contas certas e carga fiscal aumentou de 30% em 2010 para um recorde de 36,4% em 2022.

Hoje os jovens enfrentam sérias dificuldades para aceder ao mercado de trabalho. Ter emprego não significa sair da pobreza. Os governos reagem à conjuntura preocupados com calendário eleitoral e com as sondagens quando se exigia uma ação estrutural com objetivos a longo prazo. Situação favorável ao aparecimento do discurso populista que é uma consequência da crise e não a sua causa. O centro político está a colapsar.

A democracia está em crise.

Como nos diz Sérgio Godinho,

Só há liberdade a sério,

Quando houver

A paz, o pão, habitação, saúde, educação.

Até lá, ainda há um longo caminho a percorrer!

Viva o 25 de abril

 

António Ferreira

sexta-feira, 24 de abril de 2020

25 DE ABRIL - SEMPRE




25 DE ABRIL – SEMPRE!

Fruto de uma ameaça global, vivemos tempos excecionais e com contornos ainda não totalmente definidos exigindo um esforço acrescido, a mobilização das instituições e o envolvimento dos cidadãos. Para concretizar este objetivo, ultrapassar o difícil período que vivemos, urge que cada um assuma este combate como sendo seu e tenha plena consciência que o seu contributo não só é essencial como é reconhecido.

Num momento em que comemoramos o 46.º aniversário da Revolução de Abril temos assistido a uma forte celeuma sobre como deve ou não ser comemorada esta data que marca a nossa história e redesenhou o nosso futuro. Independente das posições assumidas quanto à forma como deve ser comemorada a data, todos a estão a comemorar a mesma na medida em que a evocam recorrentemente para construir a argumentação produzida.

Abril é para comemorar sempre, mesmo que pontualmente seja pedido, por motivos alheios e plenamente justificados, alguma contenção nos eventos públicos a realizar.

Na resposta à ameaça, se alguma dúvida subsistia, fica clara a importância do SNS público plasmada na forma como respondeu às necessidades excecionais. A dedicação dos seus profissionais tem sido alvo, merecido, das mais variadas manifestações públicas, de reconhecimento pela ação desenvolvida.

Umas linhas para duas instituições que apesar de terem dado uma resposta, que poderá ter superado as nossas melhores expectativas, neste combate que a todos mobiliza tem concretizado a sua ação de forma tão eficaz quanto discreta.

As Forças Armadas, tal como há 46 anos, perante a ameaça disseram presente, como é apanágio da Instituição. De norte a sul às regiões autónomas as FFAA marcaram presença, prestando diversos apoios no combate à pandemia. Várias entidades, Municípios, Hospitais, Centros de Saúde, Lares de Idosos, entre outras, foram apoiadas. Apoio que se concretizou na cedência e montagem de tendas, descontaminações, apoio sanitário, intervenção psicológica, produção de desinfetante, acolhimento de doentes nos hospitais militares, distribuição de alimentos aos sem-abrigo, apenas alguns exemplos de um extenso e variado rol de apoios prestados.

Também os professores, seguindo a mesma “metodologia” surpreenderam pela forma célere como se adaptaram perante um novo contexto.

Hoje, apesar de a Escola estar fisicamente fechada, todos os alunos estão a frequentar as aulas. Para os professores a ameaça foi percecionada como desafio daí que tenham encontrado estratégias e recursos para cumprir a sua missão – formar cidadãos e cidadãs

Apesar do envolvimento e mobilização de todos e todas no combate à pandemia provocada por um inimigo “invisível” há indícios de aproveitamento politico nas ações que vão sendo implementadas. Não é aceitável que usando dinheiros públicos se procure obter dividendos políticos. A ação no combate a esta ameaça não pode nem deve ser aproveitada como rampa de lançamento para uma qualquer candidatura politica ou projeto pessoal. Aqui, impõe-se uma referencia aos protagonistas da revolução de Abril – “os capitães” que uma vez cumprida a missão a que se propuseram, correndo os riscos que à distancia facilmente identificamos, regressaram aos quarteis entregando aos políticos a condução do destino do País.

A democracia não sendo um dado adquirido nem uma obra acabada, tem de ser alimentada com a participação cívica de todos e todas em todos os momentos.

A revolução reconstrói-se todos os dias.

Viva o 25 de abril!

Viva Portugal!

sexta-feira, 28 de junho de 2019




Minhas Senhoras e meus Senhores:


Comemoramos hoje o 45.º aniversário da revolução de abril. Mais que exaltar os protagonistas, que nunca é demais, urge fazer uma reflexão sobre o caminho percorrido.

Saímos de um contexto de isolamento internacional, onde o analfabetismo atingia números significativos e a liberdade de expressão, só constava no imaginário.

Os militares conduziram a revolução e devolveram aos políticos a condução dos destinos do país.

A realização de eleições livres, a democratização do acesso à educação e não menos significativo, o fim de uma guerra que consumia recursos humanos e materiais, que limitava significativamente o crescimento económico do pais e o mantinha isolado no contexto internacional, foram algumas das conquistas alcançadas.

Há 45 anos a Escola não estava preparada para receber todos os alunos, os recursos humanos e materiais eram escassos. Hoje, temos que questionar se a mesma escola dita inclusiva está a formar tendo por referência os desafios que estas gerações vão encontrar.

Não podemos ignorar que está em curso o que alguns designam como a 4.ª revolução industrial, a qual irá colocar novos desafios, num contexto de uma economia global, fortemente competitiva e fomentada pela inovação, onde serão necessários recursos humanos mais qualificados, maior flexibilidade e em aprendizagem contínua. A presença de robôs no nosso quotidiano, cidades sem semáforos e meios de transporte autónomos é uma realidade que começa a desenhar-se. A medio prazo é previsível que 45% dos empregos disponíveis podem ser automatizados, com particular incidência nos que não são geradores de novas ideias e não exigem comunicações complexas e profundidade de pensamento. Para dar resposta a estas novas exigências do mercado de trabalho são necessários trabalhadores com elevadas capacidades.

É comum dizer-se que hoje temos a geração mais bem preparada, gostaria de acompanhar este raciocínio mas, salvo melhor opinião, temos uma geração com habilitações académicas mais elevadas.

A revolução de abril criou as condições à participação de todos na vida politica. No entanto, ao longo dos anos temos vindo a assistir passivamente à captura do regime pelos partidos políticos. Hoje, só pode ser eleito deputado quem integrar a lista de candidatos apresentadas pelas várias forças políticas. Paradoxalmente, o legislador que não permite candidaturas independentes, não se opõe a que, uma vez eleitos, os deputados se afastem na força que integraram, se tornem independentes e exerçam as funções para a qual foram eleitos.

Não será pois de estranhar o afastamento dos jovens do exercício e prática da actividade politica. Uma das principais conquistas de abril é parcialmente ignorada pela juventude.

Para este estado poderemos elencar um conjunto de variáveis que podem explicar parcialmente este aparente desinteresse.

 - Os partidos tem colocado obstáculos à participação dos cidadãos independentes na sua actividade. Privilegia-se a democracia representativa em detrimento da democracia participativa. - Os cidadãos que optam por não estar inscritos em qualquer força partidária, estão automaticamente afastados da discussão da constituição das listas a apresentar a sufrágio. A meritocracia tarda em afirmar-se.

- Em minha opinião, a emergência de uma classe profissional de políticos, não obstante, as ténues tentativas de limitar os mandatos, tem criado dificuldades para a afirmação de novos protagonistas.

- Os partidos utilizam uma linguagem onde proliferam constructos que o eleitor não domina ou desconhece, criando neste, erradamente, a ideia que são todos iguais logo, é desnecessário votar. Se há 45 anos existia uma elevada taxa de analfabetismo, hoje, a taxa de iliteracia para a política é significativa.

Não se pode apelar à participação do eleitor e simultaneamente apresentar as mesmas condições para o exercício desse direito aqueles que se verificaram há 44 anos nas eleições para a Assembleia Constituinte. Não se compreende que numa época em que a mobilidade e as novas tecnologias são palavras de ordem as mesmas não tenham reflexo neste ato tão significativo na nossa vida coletiva. Naturalmente que algo tem que mudar sem deixar de assegurar a verdade dos resultados.

A democracia não é um dado adquirido, tem que ser alimentada com a participação cívica de todos. Temos a obrigação de legar à geração seguinte condições e ferramentas que permitam que os obstáculos com os quais se vão defrontar sejam mais facilmente ultrapassados. Para tal é necessário uma aposta séria na educação para a cidadania.

A revolução reconstrói-se todos os dias.

Viva o 25 de abril!


António Moreira Ferreira  

(intervenção do Presidente da Associação dos Amigos do Marco no almoço comemorativo do 25 de Abril de 2019 - Pensão Magalhães - 25-04-2019)