Igreja Românica de Tabuado
É talvez a mais interessante
freguesia do Concelho do Marco de Canaveses. Por ali passou uma via romana e
uma das rotas que levava os peregrinos até Santiago de Compostela.
Sabemos que foi vila e,
possivelmente, desenvolvida sobre os alicerces de uma antiga citânia. As vilas
surgiam geralmente assim. Com a reconquista cristã, feita por aqueles que
colocavam o hábito sobre uma armadura e, confiantes de que “Cristo velava pelos
seus”, correram com os mouros, Tabuado foi entregue aos cavaleiros monásticos
da Ordem dos Templários.
O local deveria ter sido
estratégico, porque o seu topónimo sugere ter recebido o nome da armação de
tábuas, o “tabulato”, que era aí colocado para servir de alvo no treino
militar. E pode ser que o “Heremita de Tabulato”, a que se refere Alexandre
Herculano, seja o cruzado zelador desse
centro de treino.
Os Templários terão seguido
o modelo de organização da nação como era discutido nas cortes. Nessas
reuniões, tinham assento nobres, bispos, abades de mosteiros e de outras
ordens. As primeiras terão sido celebradas, entre 1095 e 1108, no tempo do
Conde D. Henrique.
Naturalmente, a construção
de um mosteiro não visava apenas a dilatação da vida espiritual, mas também
significava estender um braço do poder, que se manifestava nas cortes, às
terras conquistadas aos mouros.
Os Templários, ao construírem
um mosteiro em Tabuado que, em seguida entregaram aos Cónegos Regrantes de
Santo Agostinho, terão aproveitado a jurisprudência tradicional da Vila para a
integrar no modelo administrativo que os abades e os bispos conheciam na corte.
Torre da Pena
Assim se explica que em
frente ao Mosteiro, onde hoje é a igreja, tivesse havido uma mesa e bancos de
pedra, onde os homens bons, a quem tinha sido delegado o poder, se reuniam para
discutir as questões da comunidade e
tomar decisões. Além disso, dotaram a vila de um juiz ordinário do cível e dos
órfãos, que terá exercido o seu poder na torre da Pena. Mas, no âmbito do crime,
tinham de responder no concelho de Gouveia-Ribatâmega, ao qual Tabuado pertencia.
A torre da Pena sinaliza esse poder, como
acontecia com as torres das casas grandes, como era a de Nevões.
Os conflitos, na disputa de
terras entre a ordem religiosa e os fidalgos, obrigou D. Afonso Henriques a
confirmar, por carta de couto, a posse pelo convento das terras de Tabuado.
Mas a disputa de terras não
terá terminado. D. Afonso III, em 1258, empreendeu inquirições por todo o reino
para que os seus enviados verificassem “in loco” quais as terras que se
encontravam em posse indevida do Clero ou da Nobreza.
As melhores informações
sobre a história destas terras, vêm, por isso, das inquirições reais, que foram
em 2014 compiladas em dezenas de volumes com a designação de memórias
paroquiais.
Torre de Nevões
Tabuado foi Vila e Couto. Segundo
Pinho Leal (“Portugal Antigo e Moderno”), o primeiro senhor de Tabuado foi
Diogo de Barros. Pelo casamento de uma das suas netas, a sétima, com Sebastião
Pereira Correia Montenegro este tornou-se no primeiro morgado de Tabuado,
residindo no Solar da Torre de Novões.
No séc. XII, terá havido em
Tabuado dois templos: um dedicado a Santa Maria e outro ao Salvador, uma
referência a Jesus Cristo, muito invocado pelos cruzados. Só este chegou até ao
nosso tempo e é o orago da Igreja românica que actualmente existe.
A igreja possui uma
monumentalidade que a torna num dos melhores exemplos da época românica. Dispõe
de uma pintura mural da imagem de Cristo Salvador que é exemplar único.
No séc. XV, a pedido do
bispo do Porto, o papa Sisto IV, que foi responsável pela instituição da
terrível inquisição em Espanha, terá sido chamado a resolver uma querela de disputa
de interesses ligados às terras de Tabuado entre clero e fidalgos. Resolveu a
questão, reduzindo o couto a uma abadia secular e entregou-a ao bispo do Porto,
mantendo, por outro lado, o direito de padroado ao morgadio dos Montenegros.
Tabuado passou, então, sob o ponto de vista eclesiástico a pertencer
ao concelho de Canaveses e à diocese do Porto, mas sob o ponto de vista
administrativo, em 1736, ainda pertencia à comarca de Guimarães e ao concelho
de Gouveia-Ribatâmega. Depois fez parte do concelho de Soalhães e com a reforma
liberal do século XIX foi integrado, com a designação de freguesia, no concelho
do Marco de Canaveses.
As muitas capelas que se
localizam em Tabuado sinalizam que a freguesia recebeu importante influência de
ordens religiosas e teve destaque no apoio a peregrinos.
As personalidades ilustres
de Tabuado foram muitas e muitas são as narrativas em que estão envolvidas. Convém,
no entanto, lembrar que em boa verdade, todos os escritos que se conhecem
anteriores à fundação da Academia Real de História, no séc. XVIII, têm carácter
proselitista, estão mais próximos das lendas do que da história. E mesmo,
quando D. João V, a pedido de D. António Caetano de Sousa e de D. Francisco
Xavier de Meneses, criou a academia, em 1720, foi para fazer biografia
fantasiada de reis e fidalgos e não para narrar factos objectivos. A história
foi sempre uma das perspectivas possíveis do que aconteceu e há sempre muita dificuldade
em encontrar a história do passado, desprovida de fantasias.
Entre as personalidades do
século passado que mais prestigiaram Tabuado, conhece-se Fernando de Miranda
Monterroso, médico e herói das campanhas de pacificação em África e herói da
Grande Guerra; Costa Santos, notável Médico; Borges Araújo, notário e advogado;
Amadeu Marramaque, presidente da Câmara do Marco; Ramiro Afonso Pontes,
advogado e conservador do Registo Civil, um dos fundadores da PROMARCO, a quem
se deve a estrada que liga duas aldeias da Serra da Aboboreira, e um dos últimos social-democratas que o
Concelho conheceu; Joaquim Monteiro, jornalista e poeta, etc.
Não pretendemos esgotar o
muito que há a dizer sobre Tabuado, mas apenas despertar a memória desta Terra,
cientes de que quanto melhor a conhecermos, melhor nos sentimos identificados
com as nossas raízes.