Carmem Miranda
Pelo
que leio, alguns protocandidatos à Câmara do Marco de Canaveses ainda
não deram conta que
há marcoenses. E este foi o grande flagelo do nosso Concelho, que
ainda não está coberto por saneamento público e tem problemas enormes,
desde o da água aos cuidados de saúde. Pensam que o Marco de Canaveses é
só Carmem Miranda e a Gala do Desporto?!...
É uma espécie de defesa da política pimba!
Naturalmente, haverá quem a propósito disso faça negócio com peças de ourivesaria ou porcelana,
mas o retorno para o Marco de Canaveses não é nenhum.
Cármen
Miranda detestava o Marco e Portugal. Só por ter nascido na Légua não
valia a pena fazer
dela um instrumento de propaganda política. E nada de original há
nisso! Apenas segue a estratégia que o assessor das cartas anónimas
sugeriu a Ferreira Torres: que a tornasse bandeira da sua propaganda
caciqueira.
Eu estava na Câmara, (Comissão Administrativa), quando a documentação sobre Carmem Miranda foi
para lá enviada. Na altura, sugeri que fosse posto uma placa na casa onde nasceu e mais nada.
O
seu pai, barbeiro, que usava por generosidade um espaço da casa do
capitão Assis, emigrou para
o Brasil para fugir à miséria que se vivia em Portugal. A sua esposa,
Maria Emília, ficou, porque estava grávida. Aguardou, por isso, o
nascimento da filha e mal recebeu carta de chamada, seguiu o caminho do
marido, acompanhada da filha mais velha, Olinda
e de Cármen, tendo esta menos de um ano de idade.
Carmem
Miranda, por circunstâncias que não vale a pena descrever, tornou-se
célebre e com passaporte
brasileiro acabou por fazer carreira na Broadway. Não gostava de
Portugal e chegou a afirmá-lo. E não é para admirar: os seus pais
fugiram da miséria que nesse tempo se vivia no País onde nasceu. A
monarquia estava agonizante e o País na bancarrota.
Regressar ou até falar de Portugal, era lembrar a terra que a obrigou a fugir da miséria e as convulsões
da primeira república. E, quando estava no apogeu da sua
carreira, 1930-1950, a terra onde nasceu era gerida por um ditador, não
havia liberdade, perseguia-se por delito de opinião e a arte, a música e
o cinema tinham de ir à censura. Nesse Portugal
pobre e triste, a forma como ela se apresentava em palco era um
atentado aos bons costumes. Nessa altura, até se ia a Fátima descalço, o
que levou, mais tarde, Salazar, em vez de oferecer calçado, proibir
andar descalço nas ruas.
Agora,
há gente que não percebe que a propaganda a Carmem Miranda só serve o
populismo e a demagogia.
Não serve, por certo, os interesses da boa imagem dos marcoenses, nem
de Portugal. Talvez só sirva os interesses de Salazar, porque este
representa os governantes que criam as condições para que os cidadãos,
tal como o pai de Carmem Miranda, tenham que emigrar.
Por favor, deixem a Baiana em paz!
Esta política de instrumentalizar Cármen Miranda só deprime quem gosta da sua terra, é democrata
e quer orgulhar-se de ser português!
Temos tantos marcoenses com imenso valor, muitos foram grandes beneméritos da nossa Terra, e continuam
esquecidos. Por que será? Será porque não dão votos?!..
João Baptista Magalhães
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