Pelourinho de Soalhães
Soalhães terá já existido como povoado
muito antes da formação da nacionalidade. E a sua toponímia recebeu-a de sunilanis
ou suylanes, palavra que deve ter a ver com o facto de ser um local soalheiro,
de terras muito férteis e irrigadas. Foi uma vila romana e, por certo, mais
tarde ocupada pelas invasões dos muçulmanos e reconquistada pelos
cruzados. Não é por acaso que um documento de 865 refere a existência em
Suylanes de um mosteiro de freiras e frades da ordem de S. Bento. O seu
fundador parece ter sido um tal Sancho Ortíz ou Ortiga que tudo indica ser um
importante cruzado que por aqui andasse a defender os cristãos contra os
mouros. Foi buscar ao bispo de Tour, S. Martinho, o patrocínio do
Mosteiro, precisamente porque este alto clérigo, que viveu no séc. IV, era
filho de um comandante romano e converteu-se ao cristianismo. Muito venerado
pelos seus milagres (quem não se lembra do dia de S. Martinho!) e por ter
fundado o mais antigo mosteiro conhecido na Europa. E Ortiz terá querido
divulgar o exemplo do Bispo e manifestar a devoção que lhe prestava ou
pagar-lhe alguma promessa com a construção do mosteiro e a doação, para a sua
subsistência, da sua quinta de Ortiz, entre outros bens.
Seria
estranho construir-se um Mosteiro, se por ali perto não houvesse um povoado
relevante. Os mosteiros construíam-se sempre fora dos povoados para que os
monges não fossem perturbados na sua meditação, mas precisavam sempre que bem
perto ficasse um povoado para exercerem testemunho da sua vida espiritual e
suprirem as carências necessárias à vida do dia a dia. É até muito possível que
esse povoado tivesse derivado da muito remota ocupação da Aboboreira iniciada
por povos da pré-história, que as dezenas de mamoas e dolmens dão testemunho.
Por
volta do séc. IX, na altura em que se julgou terem sido descobertos os
restos mortais do Apóstolo Santiago, que deu o nome a Santiago de Compostela,
este lugar rapidamente se tornou numa alternativa às grandes peregrinações a
Roma e a Jerusalém e ganhou jurisdição religiosa sobre as dioceses da
Galiza.
Por
Soalhães, fizeram caminho muitos dos peregrinos que vinham de diferentes
partes, seguindo antigas vias romanas que levavam nomeadamente a Braga,
principal entroncamento de peregrinações, da qual se dizia: “ Braga reza… e os
céus enchem-se de cânticos e louvores ao apóstolo Santiago”. A capela de
Santiago testemunha esse itinerário de peregrinos.
O
Mosteiro de S. Martinho ganhou muito prestígio e dispunha de rendas abundantes.
Só isso justifica que no ano 1029 os frades do Mosteiro tivessem ido a Castela
queixar-se ao Rei, Fernando Magno, da apropriação do direito de padroado que
lhes queria fazer o cavaleiro secular Garcia Moniz, neto (só no séc. XVI, com o
concílio de Trento, apareceu o celibato na Igreja) do bispo Gonçalo Moniz que
conquistou o Porto aos Mouros e se achava senhor das terras que iam até Riba
Douro.
Os
conflitos de jurisdição de padroados eram frequentes nos séculos XI, XII e
XIII. A maioria das terras pertenciam à Igreja e o bispo era uma autoridade não
apenas religiosa, mas também politica. Podia decidir a entrega de terras a seu
bel-prazer e isso gerava por vezes conflitos. E quando isso acontecia,
recorria-se ao Rei e depois ao Papa. Talvez, por isso, em 1103, o papa Paschoal
II, numa bula enviada ao arcebispo de Santiago, D. Diogo Gelmires, que tinha
jurisdição sobre as dioceses de Braga e do Porto, extinguiu o mosteiro de
Soalhães.
Entregou
o padroado do Mosteiro à família Moniz, da qual haveria de fazer parte Gonçalo
Viegas de Porto Carreiro, um nobre cavaleiro, que instituiria o morgadio de
Soalhães. No ano 1238 já não se fala do Mosteiro, mas de uma igreja diocesana,
a Igreja de S. Martinho de Soalhães, que nessa altura dispunha de uma arquitectura
diferente da que é hoje: possuía espaços majestosos e uma elegante torre para
sinos e relógio, separada do corpo da igreja e com um espaço que servia de
aljube. O seu prior, pela importância que tinha a igreja, era Abade com cruz
peitoral e isso significava que tinha ascendência sobre outras freguesias.
Nesse ano, D. Sancho II retirou o padroado a Porto Carreiro e entregou-o ao
Bispo do Porto, D. Pedro Salvador, que, por querer paz, o trocou com D. João
Martins de Soalhães, bispo de Lisboa, familiar de Moniz e Porto Carreiro. Por
sua vez, este Bispo, que tinha vários filhos, entregou estas terras a Vasco
Annes de Soalhães, que foi legitimado filho de D. João Martins, pelo rei D.
Dinis, a 18 de Janeiro de 1308. Ficou sepultado na capela-mor da igreja.
Igreja de Soalhães
À medida que o poder real se foi concentrando, os reis promoveram inquirições para conhecer as terras, os seus proprietários e tomarem decisões de entregar terras a nobres da sua confiança. Para afirmar o seu poder D. Afonso III empreendeu as inquirições de 1258 que geraram muitos conflitos entre a nobreza e o clero. D. Fernando, por carta de Julho de 1373 pôs termo a esses conflitos, decidindo doar as terras de Soalhães a Gonçalo Mendes de Vasconcelos, que ali construiu um apalaçado edifício que veio dar lugar ao Solar de Quintã, concluído, tal como o temos hoje, em 1742, ainda no tempo de D. João V.
D. Manuel I, por carta do dia 15 de
Julho de 1514, concede o foral de Concelho a Soalhães, que passou a abranger as
seguintes freguesias: Folhada, Fornos, Mesquinhata, Soalhães, Tabuado e Várzea
de Ovelha (Aliviada). Dispõe de um pelourinho e de uma administração da Justiça
idêntica á do Concelho de Canaveses. Será talvez interessante saber que foram
capitães-mor de Soalhães António Vieira de Magalhães, capitão da companhia do
couto de Soalhães em 5 de Maio de 1781, António de Vasconcelos Corte-Real,
capitão-mor em 2 de Março de 1795 e Inácio de Moura Coutinho da Silva
Montenegro, em 11 de Setembro de 1830, último a desempenhar este cargo.
Soalhães
é uma das maiores freguesias do Concelho. Ficou célebre por um crime, cometido
em 1934, instigado por um bruxo de Ermesinde. Uma jovem epiléptica, que
pertencia a uma família pobre do lugar de Oliveira, por “receita” do bruxo foi
queimada por familiares na presunção de que ressuscitaria sem os ataques de
epilepsia. No julgamento, o advogado de defesa, nas suas alegações, bem
implorou aos magistrados que no banco do réu estivesse o verdadeiro autor do
crime e não aquela gente humilde que só queria a saúde da sua familiar, mas não
foi isso que aconteceu. Os réus foram condenados a pena maior. Por se tratar de
gente honrada, o peso do sofrimento, da revolta e da vergonha fez com que
toda a família dessa jovem desventurada desaparecesse de Soalhães, desconhecendo-se,
ainda hoje, o seu paradeiro.
Casa de Quintã - Soalhães
Bernardo de Santareno, pseudónimo do médico de Santarém, Dr. António Martinho do Rosário, era um homem de esquerda, que se preocupava com a sorte dos desfavorecidos. Foi médico junto da frota bacalhoeira portuguesa e conhecia bem os problemas sociais do seu País. O seu interesse por estas questões estimulava-o a escrever sobre as condições de existência da gente mais humilde . Sensibilizado com esta tragédia escreveu o livro “O Crime da Aldeia Velha”, que mais tarde, Cunha Telles, o grande promotor do cinema novo, transformou num projecto para o cinema e Manuel Guimarães concretizou-o.
Não
é uma “peça” que apouque Soalhães ou o Marco de Canaveses, mas um trabalho de
denúncia do regime salazarista, da exploração da ignorância e das crenças. Só
por má-fé, numa construção sofistica, se pode tomar esta tragédia pela maldade
de uma terra. O que aconteceu em Soalhães poderia ter acontecido numa outra
terra qualquer, onde as circunstâncias fossem as mesmas. Soalhães e Marco de
Canaveses foram sempre, na sua história, terra de gente boa e de honra e quem
dela tem dado má imagem ou nunca teve nela raízes ou foram pervertidos por
vigaristas que no Marco estenderam arraiais!
Alguem me pode ajudar ? Procuro ascendentes entre 1850 e 1898 na freguesia de Soalhães Joaquim Vieira nascido em em 1898 efilho de Antonio Vieira .Qualquer ajuda será util pois nos assentos de nascimento não consigo encontrar .
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