Tuias parece ter recebido o
nome do facto de ser um local onde era muito abundante a planta tuia (Thuya).
Em tempos remotos dispunha de um mosteiro, muito apadrinhado pela beata
Mafalda, filha de D. Sancho I. Foi extinto em 1535 por estar degradado e se ter
construído um outro no Porto, com as mesmas atribuições.
Ao concelho de Tuias
pertenceu Fornos, assim denominado pelos fornos que nesta freguesia existiam
pertencentes a D. Mafalda que, em testamento, os deixou à Albergaria. Também
lhe pertenciam as freguesias de Rio de Galinhas (por ter um ribeiro onde
proliferavam essas aves) e Freixo ( que terá recebido o nome pela abundância
nesse território dessas árvores da família das oliveiras). A importância desta
freguesia, em tempos remotos, está bem patente no seu espólio arqueológico,
nomeadamente na estação arqueológica do Freixo, Tongóbriga.
O Concelho de Tuias, bem
como o de Canaveses e o de Soalhães, até 1770, pertenciam administrativamente à comarca de
Guimarães e, sob o ponto de vista eclesial, à diocese do Porto. Nessa altura,
sofreu uma alteração administrativa profunda. E não foi pelas melhores razões!
Governava Sebastião José de Carvalho e Mello, a quem D. José, mais vocacionado para
touradas, jogos e galanteios, entregara os destinos da governação do reino.
Mas, como dizia D. João V, “Sebastião José tinha pelos no coração”. Era, de facto
um homem muito ambicioso que não olhava a meios para atingir os seus fins. Utilizou
os conselhos dos seus “oráculos”, como lhe
chamou Camilo (in, Perfil do Marquês de Pombal”) e logo se descartava deles para que só ele
ficasse aos olhos de D. José como o protagonista das reformas feitas,
nomeadamente a construção de uma nova Lisboa, depois do terramoto.
Os ditadores romanos e os
que apareceram no séc. XX não ficavam mal ao seu lado na galeria dos homens
abomináveis. A história não diz isso dele, mas não devemos esquecer que há
sempre uma outra história, a história dos vencidos, das vítimas dos ditadores.
E só para recordar, convém lembrar que o Marquês do Pombal perseguiu todos os
que lhe pudessem fazer sombra junto do Rei. Isso aconteceu com os jesuítas, com
todos os pensadores mais notáveis na altura e com a família dos Távora. Aproveitando
o mal-estar que causava à família dos Távora a relação de D. José com Teresa de
Távora, esposa de Luís Bernardo de Távora que estava na India, terá armadilhado
uma intentona contra o Rei para acusar os Távora de regicida.
Sabe-se que D. José, no dia
3 de Setembro de 1758, já de noite, ao dirigir-se para uma das quintas que
possuía em Belém, foi atingido num braço por um tiro de bacamarte. Logo,
Sebastião José fez do caso um atentado à vida do Rei e culpou os Távora,
levando-os ao Tribunal da Inquisição que
nessa altura já estava ao seu serviço. Foram rapidamente condenados à fogueira,
como era vontade do Marquês.
E, para aterrorizar a alta nobreza, fez da execução da pena um espectáculo
público com requintes de barbárie: “ataram
o
Duque de Aveiro e o Marquês de Távora às rodas de um mecanismo de tortura que,
ainda vivos, lhes quebrou os ossos das pernas, braços e os do peito foram
partidos a golpes de maça. Depois, foram os seus corpos queimados e as cinzas
jogadas ao mar. D. Leonor foi decapitada à espada pelo carrasco, o qual, após
expor a cabeça ao povo, queimou-a juntamente com o restante do corpo e lançou
também as cinzas ao mar. O Marquês Luís Bernardo (que entretanto regressara da
Índia), José Maria Távora e o Conde de Atouguia foram garrotados e só depois
lhes foram quebrados os ossos das pernas e braços, sendo a seguir os seus
corpos lançados na mesma fogueira que os predecessores. Pena igual aplicou-se
aos criados Manuel Álvares e João Miguel, assim como ao cabo Brás Romeiro. Por
sua vez, António Álvares e José Policarpo de Azevedo foram atados em postes
altos e queimados vivos, tendo as suas cinzas o mesmo destino das dos outros
réus. Além disso, todos foram condenados à desnaturalização, exautoração das
honras e privilégios da nobreza a que tinham direito e os seus bens totalmente
confiscados” (in, Processo dos Távora). E, quando, no Porto, em 23 de Fevereiro de 1757, os
taberneiros e pequenos agricultores fizeram repenicar os sinos da Sé e da
Misericórdia para anunciarem a sua revolta contra o monopólio do vinho do
Porto, esmagou o motim com a ocupação militar da cidade, mandou decapitar os
revoltosos e acusou os Jesuítas e os Távora de serem os instigadores. E, ainda,
criou um imposto só para os portuenses para serem eles a pagar os custos no
esmagamento do motim. Há ainda mais casos, como o do infortunado Padre
Malagrida que já com 70 anos foi levado ao cadafalso e publicamente decapitado.
A crueldade impressionou o próprio Voltaire que viu nessa condenação “um
excesso de ridículo e absurdo junto ao excesso de terror.”
Com um primeiro ministro de
D. José com esta têmpera, naturalmente o bispo do Porto, por ser da família dos
Távora, não podia estar em sossego. Teve de alterar o seu nome, passando a ser
apenas D. António de Sousa. Mesmo assim, Sebastião José não descansou enquanto
não desmembrou a diocese para lhe retirar prestígio e influência. Elevou a vila de Arrifana de Sousa a cidade e
denominou-a Penafiel. Terá ido buscar esta toponímia à lenda que considerava o
castelo da Pena um exemplo de resistência aos mouros e de fidelidade aos
naturais, ficando designada por Pennafidelis. Tornou a Cidade numa capital
administrativa, para onde passaram os concelhos de Canaveses, Tuias e Soalhães
e, com as influências que exerceu junto do papa Clemente XIV, fez dela uma
diocese, para onde passaram os referidos concelhos. O bispo que foi nomeado
para Penafiel nunca chegou a exercer funções, porque, entretanto deu-se a
“viradeira” (nome que se dá à demissão do Marquês do Pombal por D. Maria I) e
tudo regressou à fase anterior.
FREIXO
Sempre houve uma forte
ligação entre Canaveses, Tuias e Soalhães. Nos finais do séc. XVIII, o
capitão-mor de Canaveses, António de Vasconcelos Corte-Real tinha
responsabilidades sobre Tuias e Soalhães. E o cirurgião José Soares de
Vasconcelos, natural de Tuias, foi nomeado por D. Maria I médico do Hospital da
Albergaria de Canaveses na mesma altura em que o fidalgo Joaquim Queirós
Camanho e Vasconcellos, natural de Amarante, era nomeado administrador dessa
Instituição. Aliás, a tomada de posse
foi de arromba. Toda a fidalguia dos arredores esteve presente, como Duarte
Claudio Huet de Bacellar Soto Mayor, Luís de Atahíde Pimentel Castelo Branco,
etc. E também apareceu um académico, natural de Canaveses, que foi,
incontestavelmente, o maior vulto da Europa e do Mundo nessa época. Refiro-me
ao lente de matemática e astronomia, director do observatório astronómico e, mais
tarde, negociador, por parte da coroa, das condições de rendição de Napoleão,
no Congresso de Viena, José Monteiro da Rocha. É uma personalidade muito
importante, sobre a qual brevemente a Associação dos Amigos do Marco promoverá
um debate.
O cargo de topo pertencia,
nessa altura, ao de juiz ordinário, mas, por ocasião das invasões francesas,
foi criado o cargo de Guarda da Pólvora que, pela sua responsabilidade, era
considerado de uma importância semelhante.
Nos finais do séc. XVIII Tuias
foi anexada a Soalhães e com a reforma liberal (1852) passou a fazer parte do Concelho
do Marco de Canaveses. Hoje, pela reforma administrativa de 2013, ficou
integrada na freguesia do Marco.
O Padre Torquato Peixoto de
Azevedo tem considerações interessantes sobre este concelho que vale a pena ler
e reflectir, como se evidencia em fac-simile.
João Baptista Magalhães
Sem comentários:
Enviar um comentário