Precisamos de uma oposição que dignifique a vida democrática. Vivemos uma
crise que se revela na falta de confronto de projetos, propostas de soluções.
Andamos entulhados numa retórica de simulações, acusações sem interesse, jogos
de palavras, em suma, numa sinfonia adormecedora. Canta-se vitória nas derrotas
e fazem-se contas dos resultados eleitorais para todos os gostos. Isto é mau
para quem governa, a nível nacional ou autárquico, é mau para a democracia e é
mau para a credibilidade do sistema.
Os que pensam que ganhar umas eleições é que conta estão muito errados. O
poder foi sempre transitório e há quem depois de perder umas eleições fique
muitos anos na oposição pelas marcas de um enorme vazio (quase nojo!) que
deixou.
Vivemos hoje uma situação caricata: para percebermos bem o fervor retórico
com que alguns deputados, alguns comentadores políticos, defendem “a qualidade”
da saúde, a educação, o livre-mercado, o não intervencionismo, etc., temos de
ir às finanças, aos sectores empresariais, e procurar saber que empresa, grupo
económico ou interesse financeiro gera esse fervor, se há avenças a ligar essas
instituições a grandes escritórios por onde passam deputados e notáveis
comentadeiros. Ou pensam que foi por acaso que Paulo Portas ou outros foram
escolhidos para as empresas que lhe dão vencimentos milionários?
Precisamos de uma regeneração, que coloque o mérito, os valores , a honra,
a transparência e os projetos na linha das escolhas. O sistema partidário e o
político envelheceram, abrem brechas ao populismo, e favorecem a mediocridade,
o chico-espertismo e o nepotismo. O PSD é o espelho de tudo isso, mas o PS não
está muito melhor. Quem ouviu as declarações triunfalistas de Pizarro no dia
das eleições, até poderia pensar que não só ganhou aquelas eleições como mais
três ou quatro, quando foi para todos os efeitos um derrotado e sem atingir as
votações que o PS já teve noutros tempos. É esta verborreia que se tornou
encantatória para quem vive em circuito fechado, como são os polítiqueiros.
Abrir este fechamento aos problemas reais das pessoas só é possível, quando
governo e oposição se preocuparem com o que dá razão à democracia: escolher os
melhores, com os melhores projetos, as melhores crenças ideológicas, para
diminuir o sofrimento dos que mais sofrem. Espero que o congresso do PSD seja a
oportunidade para sair do pantano em que caiu e saiba criar condições para que
uma figura honesta, trabalhadora e sem aqueles truques de ilusionismo que
dominam os gastos e estragados politiqueiros, ganhe a direção do partido. Sem
uma oposição credível e forte, este governo terá a tendência para funcionar em
roda livre, privilegiando os seus apaniguados. Não basta dizer-se de esquerda,
é preciso que a sua prática o demonstre. e isso só acontece se tiver confronto.
São frustrantes os resultados do PC e do BE, as duas formações políticas
que deram sentido à geringonça e contribuiram para os seus bons resultados.
É necessário que o voto transporte uma convicção e não seja um calculo de
pontaria. É tempo de todos os portugueses se sentirem representados por quem
escolhem e a política deixar de ser orientada por lógicas de circunstâncias ou
até mafiosas.
Sinceramente, mais
importante que o partido das nossas simpatias é que as instituições sejam
credíveis e o sistema se abra ao mérito, há transparência e aos valores da
honra para que os portugueses acreditem em quem os governa e confiem na
construção de um futuro melhor.
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