Sabia-se que estava muito mal. Os últimos tempos passava-os no Marco de Canaveses, em Tuias, onde tinha construído uma excelente vivenda, mesmo ao lado da humilde casa que fora dos seus pais. Estive com ele poucas vezes, embora o conhecesse no Colégio D. João III, que ele frequentava já no 5º ano. Tudo o que foi, deve-o a três bons homens do meu Concelho: ao seu professor primário, sr Andrade, que sugeriu ao Dr. Arlindo, Presidente da Câmara, que a autarquia lhe atribuísse uma bolsa de estudo (como já era costume ser dada aos melhores alunos, desde que o Coronel-Médico Fernando Monterroso, as criou); e ainda ao sr. Correia do Freixo, gerente do Banco Pinto de Magalhães, no Porto. Não é que Belmiro de Azevedo precisasse dessa “cunha”! Belmiro formou-se com uma excelente nota na Faculdade de Engenharia e facilmente arranjaria emprego numa outra qualquer empresa. Mas era costume, nesse tempo (como tenho saudades desse tempo!), os conterrâneos de sucesso arranjarem emprego para os (com menos sorte) da sua terra. Belmiro de Azevedo foi um dos homens mais ricos do País e até do mundo, estudou no Liceu Alexandre Herculano e aí conviveu com personalidades, como Rui Vilar e outras. Fez uma pós-graduação nos Estados Unidos e dizem que era um incansável trabalhador e um empresário muito á frente do seu tempo. Partiu, hoje, com mais cinco anos que eu: não podemos escapar a esta sorte, por mais dinheiro que tenhamos!
ASSOCIAÇÃO CÍVICA DE DEFESA E PROMOÇÃO DO CONCELHO DE MARCO DE CANAVESES
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
terça-feira, 28 de novembro de 2017
Uma memória selectiva!
Fica-nos um desconforto enorme na alma, quando damos conta de que se vai apagando a memória dos que tanto deram às instituições de misericórdia do nosso Concelho. Já aconteceu com os Bombeiros e está a acontecer com o Hospital do Marco.
O Hospital do Marco já existia antes do Eng Carneiro Geraldes e outros homens bons promoverem a recolha de fundos que fez o grande cortejo de beneficência para lhe dar a grandeza que hoje tem. Se fosse vivo, tenho a certeza que o Eng. Carneiro Geraldes corrigiria o que hoje foi dito no Marco de Canaveses.
Conheço um caso que demonstra bem a personalidade do Engenheiro de Ariz. Um amigo meu concorreu à empresa de eletricidade de que Carneiro Geraldes era administrador, a “Chenort”. Esse meu amigo, pouco antes tinha sido preso pela PIDE e acusado de pertencer ao Partido Comunista. O Engenheiro recebeu-o e disse-lhe: “eu só quero que o senhor seja um bom profissional, não me interessa mais nada!”
Por isso, ele (meu amigo) revoltava-se sempre que ouvia falar de gente que o Engenheiro tratara bem e depois do 25 de Abril o traíram. Esse funcionário acabou por ser diretor da empresa em Vila Real, em Aveiro, etc. Ainda hoje é vivo e recorda-me isso sempre que falo com ele. E manifesta sempre uma profunda revolta contra os que foram ingratos a esse Homem de Ariz.
Porque o Eng. Carneiro Geraldes conheceu bem a ingratidão, tenho a certeza que hoje protestaria contra a pompa e circunstância de só falarem dele. Lembraria aos que o homenageavam que o Hospital do Marco foi inaugurado em 1929 por uma associação de marcoenses bons, de excelência, que criaram a “Associação Beneficente do Marco” que levou a cabo a construção do Hospital de Santa Isabel. Ele (Carneiro Geraldes) ajudou a transformá-lo num hospital moderno, mas não foi ele que o criou. Lembraria também o dr. Miguel Ângelo que ofereceu ao Hospital todos os seus instrumentos de oftalmologia e que a Gulbenkian doou-o de um aparelho de Raios-X moderníssimo para a altura.
Se queremos homenagear a memória de uma Instituição não podemos esconder alguns dos que se dedicaram a ela, de forma generosa e sem pedirem nada, só porque não são os mais notáveis. O problema das instituições de misericórdia é hoje funcionarem como empresas e terem á sua frente quem não conhece a sua história. São organizações fechadas e pouco já têm a ver com o sentido de “misericórdia” que lhes era dado noutros tempos.
Lembremos o Asilo que estava associado ao Hospital Santa Isabel e fazia todo o sentido! Foi substituído por um Lar da Terceira Idade construído nos terrenos da Casa dos Murteirados (um fidalgo que no Marco faleceu sem descendentes). Por certo há já muita gente que ignora que antes do Lar havia um Asilo construído a expensas do Coronel-Médico Fernando Monterroso.
Não esqueçam esta gente!
A memória de uma Terra, de um Povo, não pode ficar entregue ao espavento dos novos-ricos, os que fazem a seleção dos que lhes dão mais proveito!
Precisamos de boas referências, referências de homens bons que precisam de ser continuados.
domingo, 26 de novembro de 2017
Uma oportunidade para conhecer um dos melhores da nossa Terra!
Um debate que os marcoenses podiam saber aproveitar!
Pensando bem, não nos podemos queixar da elevada quantidade de álcool que jovens consomem na nossa Terra. Isso é um reflexo da falta de estímulo de iniciativas culturais. A cultura educa-se, como o saber comer ou o saber beber. No passado sábado, a AAMC promoveu, no Auditório Municipal do Marco de Canaveses, uma conferência sobre José Monteiro da Rocha, uma das personalidades mais marcantes dos finais do séc. XVIII e início do séc. XIX. Foi educador do príncipe herdeiro, D. João VI, e dos seus irmãos, reformador dos estudos da Universidade de Coimbra, um matemático e astrónomo dos mais brilhantes da Europa do tempo, pertenceu à Academia das Ciências, etc. Nasceu na nossa Terra, mais propriamente, em Sobretâmega, Canaveses, onde tinha os pais e os irmãos que muito ajudou. Foi um Homem apagado da história por ser jesuíta, mas, hoje, está a ser reabilitado e já se prepara na Universidade de Coimbra o aniversário da sua morte com colóquios e debates sobre os seus escritos. A Academia de Ciências vai publicar uma longa reflexão sobre esta insigne figura, que foi nosso conterrâneo. Também, em colaboração com a autarquia, queremos tornar pública uma memória deste insigne marcoense.É impossível, hoje, conhecer a história da ciência, da matemática, da astronomia, do ensino, sem conhecer José Monteiro da Rocha, um Homem das luzes. Alguns académicos do Porto foram ouvir a conferência excelente que o Prof. Dr. Fernando B. Figueiredo, da Universidade de Coimbra, investigador na área das matemáticas e da astronomia, pronunciou; e o historiador, prof. Dr. Eugénio dos Santos da U.P. apresentou o conferencista e integrou a obra de Monteiro da Rocha, sacerdote, cientista e vice-reitor da U.C. no contexto histórico do tempo.
A importância desde debate teve acolhimento em alguns académicos que foram do
Porto ouvir os conferencistas, o que, para além da honra que a sua presença deu à Associação dos Amigos do Marco, também ajudaram a compor um auditório onde pouca gente do Marco compareceu, inclusivamente sócios e corpos sociais da nossa Associação.
Felizmente que a Sra. Presidente da Câmara apareceu para cumprimentar os conferencistas e se fez representar pelo Sr. Vice-Presidente durante o debate, o que é sempre um estímulo para nós, Associação dos Amigos do Marco de Canaveses
A importância desde debate teve acolhimento em alguns académicos que foram do
Porto ouvir os conferencistas, o que, para além da honra que a sua presença deu à Associação dos Amigos do Marco, também ajudaram a compor um auditório onde pouca gente do Marco compareceu, inclusivamente sócios e corpos sociais da nossa Associação.
Felizmente que a Sra. Presidente da Câmara apareceu para cumprimentar os conferencistas e se fez representar pelo Sr. Vice-Presidente durante o debate, o que é sempre um estímulo para nós, Associação dos Amigos do Marco de Canaveses
domingo, 19 de novembro de 2017
CONFERÊNCIA SOBRE JOSÉ MONTEIRO DA ROCHA - 1734-1819
Promovida pela Associação dos Amigos do Concelho do Marco de Canaveses, no próximo dia 25 de Novembro (Sábado), pelas 16 horas, no Auditório Municipal, o Prof. Dr. Fernando B. Figueiredo, da U.C. vai falar sobre José Monteiro da Rocha. Poucos conhecerão esta notável personagem, tida como um sábio, das mais respeitadas na Europa do seu tempo.
O palestrante é um académico, que fez a tese de mestrado e doutoramento sobre Monteiro da Rocha, estudando os seus trabalhos de matemático e astrónomo insigne.
Fará a sua apresentação o Prof Dr. Eugénio dos Santos e o nosso amigo e conterrâneo prof Dr. Joaquim Baldaia.
José Monteiro da Rocha nasceu em 1734 em Canaveses. Pertencia a uma família de lavradores e um dos seus irmãos foi um notável santeiro: construiu os santos em pedra que engrandecem o Santuário do Bom Jesus de Braga.
José Monteiro da Rocha foi uma das personalidades mais importantes da Europa nos finais do séc XVIII, princípios do séc. XIX. Aos 18 anos partiu para o Brasil e aí entrou na Ordem de Santo Inácio. Com a expulsão dos jesuítas permaneceu como clérigo e veio para Portugal. Por sugestão do reitor da Universidade de Coimbra,D. Francisco de Lemos, foi encarregado de organizar a nova Faculdade de Matemática (criada com a Reforma de 1772). Colaborou na redação dos estatutos da Universidade reformada, na parte respeitante às Ciências Naturais e à Matemática. Recebeu o grau de Doutor e foi incorporado nessa Faculdade, lecionando as cadeiras de Ciências Físico-Matemáticas, Mecânica e Hidrodinâmica. Em 1783 passou a reger a cadeira de Astronomia e tornou-se no astrónomo mais célebre da Europa. Nesta matéria, tem inúmeros trabalhos, pronunciou inúmeras conferências e é citado por todos os especialistas, de todo o mundo, nesta área do conhecimento.
Em 1795 foi nomeado diretor do Observatório Astronómico.
Entre 1801/1807 foi conselheiro do Príncipe Regente D. João, e, logo a seguir, foi nomeado Mestre do príncipe D. Pedro e dos outros infantes, sendo-lhe atribuído um aposento no palácio real.
Em 1804, tornou-se membro da Sociedade Real da Marinha e vice-presidente da Junta da Direção Geral de Estudos e é agraciado como membro da Ordem de Cristo. E, quando o Bispo de Coimbra e reitor da universidade, Dr. Francisco Lemos, liderou a embaixada que foi a Baiona conferenciar com Napoleão, Monteiro da Rocha substituiu o Reitor e foi o elo de ligação entre o Bispo e D. João VI que já se tinha refugiado no Brasil.
Em1814 o Dr. Francisco de Lemos morre e José Monteiro da Rocha é um dos escolhidos para fazer a oração fúnebre durante as exéquias que, em sua honra, são feitas em Coimbra.
Em 1819 José Monteiro da Rocha faleceu em S. José de Ribamar, Carnaxide, Lisboa.
Foi reconhecido como sábio em toda a Europa e uma das personalidades mais influentes do seu tempo. No Marco de Canaveses, onde nasceu, tem uma pequenina rua com o seu nome. Mas não é referida a sua importância!
A melhor homenagem que os marcoenses lhe podem fazer é conhecê-lo bem e têm essa oportunidade no dia 25 de Novembro.
Apareça! Não podemos deixar de saber quem foi José Monteiro da Rocha. É uma obrigação cívica! Ser marcoense também é conhecer os melhores da nossa Terra.
O palestrante é um académico, que fez a tese de mestrado e doutoramento sobre Monteiro da Rocha, estudando os seus trabalhos de matemático e astrónomo insigne.
Fará a sua apresentação o Prof Dr. Eugénio dos Santos e o nosso amigo e conterrâneo prof Dr. Joaquim Baldaia.
José Monteiro da Rocha nasceu em 1734 em Canaveses. Pertencia a uma família de lavradores e um dos seus irmãos foi um notável santeiro: construiu os santos em pedra que engrandecem o Santuário do Bom Jesus de Braga.
José Monteiro da Rocha foi uma das personalidades mais importantes da Europa nos finais do séc XVIII, princípios do séc. XIX. Aos 18 anos partiu para o Brasil e aí entrou na Ordem de Santo Inácio. Com a expulsão dos jesuítas permaneceu como clérigo e veio para Portugal. Por sugestão do reitor da Universidade de Coimbra,D. Francisco de Lemos, foi encarregado de organizar a nova Faculdade de Matemática (criada com a Reforma de 1772). Colaborou na redação dos estatutos da Universidade reformada, na parte respeitante às Ciências Naturais e à Matemática. Recebeu o grau de Doutor e foi incorporado nessa Faculdade, lecionando as cadeiras de Ciências Físico-Matemáticas, Mecânica e Hidrodinâmica. Em 1783 passou a reger a cadeira de Astronomia e tornou-se no astrónomo mais célebre da Europa. Nesta matéria, tem inúmeros trabalhos, pronunciou inúmeras conferências e é citado por todos os especialistas, de todo o mundo, nesta área do conhecimento.
Em 1795 foi nomeado diretor do Observatório Astronómico.
Entre 1801/1807 foi conselheiro do Príncipe Regente D. João, e, logo a seguir, foi nomeado Mestre do príncipe D. Pedro e dos outros infantes, sendo-lhe atribuído um aposento no palácio real.
Em 1804, tornou-se membro da Sociedade Real da Marinha e vice-presidente da Junta da Direção Geral de Estudos e é agraciado como membro da Ordem de Cristo. E, quando o Bispo de Coimbra e reitor da universidade, Dr. Francisco Lemos, liderou a embaixada que foi a Baiona conferenciar com Napoleão, Monteiro da Rocha substituiu o Reitor e foi o elo de ligação entre o Bispo e D. João VI que já se tinha refugiado no Brasil.
Em1814 o Dr. Francisco de Lemos morre e José Monteiro da Rocha é um dos escolhidos para fazer a oração fúnebre durante as exéquias que, em sua honra, são feitas em Coimbra.
Em 1819 José Monteiro da Rocha faleceu em S. José de Ribamar, Carnaxide, Lisboa.
Foi reconhecido como sábio em toda a Europa e uma das personalidades mais influentes do seu tempo. No Marco de Canaveses, onde nasceu, tem uma pequenina rua com o seu nome. Mas não é referida a sua importância!
A melhor homenagem que os marcoenses lhe podem fazer é conhecê-lo bem e têm essa oportunidade no dia 25 de Novembro.
Apareça! Não podemos deixar de saber quem foi José Monteiro da Rocha. É uma obrigação cívica! Ser marcoense também é conhecer os melhores da nossa Terra.
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
Por uma cidadania que dignifique o nosso Concelho!
Uma associação cívica, como a Associação dos Amigos
do Concelho do Marco de Canaveses, tem, por sua natureza, a obrigação de lutar
por princípios cívicos, defender o prestígio do Concelho e contribuir para a
promoção do progresso social, moral, cultural e económico dos seus conterrâneos.
Podíamos servir-nos de outros exemplos! Utilizemos, por exemplo, a entrevista que o Primeiro-ministro, António Costa, no
passado dia 29 deu à TVI. Interessa-nos a sua prestação cívica. Consideramo-la relevante pelas lições que dela se podem tirar em
momentos de alguma crispação política.
António Costa teve uma postura de Estado, disse o que
deveria ser dito e, ao ser incapaz de acicatar ânimos, contribuiu para
dignificar a acção política e as relações institucionais. É pena que este
estilo não possa constituir um manual de boas práticas políticas. Muita gente,
ligada ao seu partido, precisa dessa instrução.
Na minha terra, há uma revolta (para já em
surdina!) contra intervenções feitas durante a campanha eleitoral, marcadas
pelo despudorado ataque pessoal e calunioso contra o ex-presidente da câmara.
Pelo que me foi contado, nem no tempo do fascismo se fazia isso e não sei se
Avelino Ferreira Torres chegava a tanto! O debate político é um confronto sobre
a melhor maneira de governar e não uma luta cobarde (o atingido nunca está
presente), onde vale tudo, até o enxovalho.
A Associação dos Amigos do Concelho do Marco de Canaveses sempre foi solidária com quem é ofendido
publicamente e cobardemente na sua honra, sem se poder defender. E os meus
conterrâneos conhecem o combate que esta Associação travou contra esse estilo de fazer
política. Não sabemos o que vai fazer o atingido pelas insinuações caluniosas em
dois comícios, mas preocupa-nos que os lideres locais do partido, a que pertence
o autor dessas insinuações caluniosas, não se distanciem do mesmo,
retirando-lhe confiança política. Estas atitudes deixam profundas nódoas, não
são facilmente esquecidas, vão moendo em surdina e acabam por descredibilizar
os partidos e a ação política.
O exemplo de António Costa resume-se a um princípio
muito
antigo, encontrámo-lo já nos gregos, nomeadamente na
“República” de Platão: antes da política está o civismo e se
este falta não se percebe para que serve a política. Por isso,
Platão defendia que a política é uma arte nobre. E
acrescentava: “Só a justiça diz respeito à política (…) o bom
político sofre a injustiça, mas é incapaz de a aplicar contra o
adversário.” E dizemos nós: muito menos caluniá-lo!
antigo, encontrámo-lo já nos gregos, nomeadamente na
“República” de Platão: antes da política está o civismo e se
este falta não se percebe para que serve a política. Por isso,
Platão defendia que a política é uma arte nobre. E
acrescentava: “Só a justiça diz respeito à política (…) o bom
político sofre a injustiça, mas é incapaz de a aplicar contra o
adversário.” E dizemos nós: muito menos caluniá-lo!
sexta-feira, 6 de outubro de 2017
Precisamos de um movimento cívico regenerador do sistema político.
Precisamos de uma oposição que dignifique a vida democrática. Vivemos uma
crise que se revela na falta de confronto de projetos, propostas de soluções.
Andamos entulhados numa retórica de simulações, acusações sem interesse, jogos
de palavras, em suma, numa sinfonia adormecedora. Canta-se vitória nas derrotas
e fazem-se contas dos resultados eleitorais para todos os gostos. Isto é mau
para quem governa, a nível nacional ou autárquico, é mau para a democracia e é
mau para a credibilidade do sistema.
Os que pensam que ganhar umas eleições é que conta estão muito errados. O
poder foi sempre transitório e há quem depois de perder umas eleições fique
muitos anos na oposição pelas marcas de um enorme vazio (quase nojo!) que
deixou.
Vivemos hoje uma situação caricata: para percebermos bem o fervor retórico
com que alguns deputados, alguns comentadores políticos, defendem “a qualidade”
da saúde, a educação, o livre-mercado, o não intervencionismo, etc., temos de
ir às finanças, aos sectores empresariais, e procurar saber que empresa, grupo
económico ou interesse financeiro gera esse fervor, se há avenças a ligar essas
instituições a grandes escritórios por onde passam deputados e notáveis
comentadeiros. Ou pensam que foi por acaso que Paulo Portas ou outros foram
escolhidos para as empresas que lhe dão vencimentos milionários?
Precisamos de uma regeneração, que coloque o mérito, os valores , a honra,
a transparência e os projetos na linha das escolhas. O sistema partidário e o
político envelheceram, abrem brechas ao populismo, e favorecem a mediocridade,
o chico-espertismo e o nepotismo. O PSD é o espelho de tudo isso, mas o PS não
está muito melhor. Quem ouviu as declarações triunfalistas de Pizarro no dia
das eleições, até poderia pensar que não só ganhou aquelas eleições como mais
três ou quatro, quando foi para todos os efeitos um derrotado e sem atingir as
votações que o PS já teve noutros tempos. É esta verborreia que se tornou
encantatória para quem vive em circuito fechado, como são os polítiqueiros.
Abrir este fechamento aos problemas reais das pessoas só é possível, quando
governo e oposição se preocuparem com o que dá razão à democracia: escolher os
melhores, com os melhores projetos, as melhores crenças ideológicas, para
diminuir o sofrimento dos que mais sofrem. Espero que o congresso do PSD seja a
oportunidade para sair do pantano em que caiu e saiba criar condições para que
uma figura honesta, trabalhadora e sem aqueles truques de ilusionismo que
dominam os gastos e estragados politiqueiros, ganhe a direção do partido. Sem
uma oposição credível e forte, este governo terá a tendência para funcionar em
roda livre, privilegiando os seus apaniguados. Não basta dizer-se de esquerda,
é preciso que a sua prática o demonstre. e isso só acontece se tiver confronto.
São frustrantes os resultados do PC e do BE, as duas formações políticas
que deram sentido à geringonça e contribuiram para os seus bons resultados.
É necessário que o voto transporte uma convicção e não seja um calculo de
pontaria. É tempo de todos os portugueses se sentirem representados por quem
escolhem e a política deixar de ser orientada por lógicas de circunstâncias ou
até mafiosas.
Sinceramente, mais
importante que o partido das nossas simpatias é que as instituições sejam
credíveis e o sistema se abra ao mérito, há transparência e aos valores da
honra para que os portugueses acreditem em quem os governa e confiem na
construção de um futuro melhor.
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
Se o voto é uma arma, não a vire contra si!
Está a terminar a campanha eleitoral. Neste São Miguel
dos votos, foi um fartote de beijinhos, sorrisos, distribuição a granel de
panfletos, comícios com gente à pinha, palmas e muitas palmas, cantares de
ocasião, distribuição de esferográficas, etc.. Mas nesta espuma do festival
eleiçoeiro o que terá ficado de verdadeiramente importante? Que ideias,
projetos para o futuro, formas concretas de resolver problemas, como o da água,
princípios democráticos de relação do edil com os munícipes ficaram claros e em
compromisso? O que é que conhecemos de cada elemento que constitui uma
candidatura, como a sua postura política, sua intervenção cívica, preocupação
com a “coisa pública”, etc., que possa constituir certificado de qualidade da
honestidade do candidato?
É que o blá…blá.. não chega!
Se é certo que a nível nacional
os partidos gostam de contar vitória com os resultados globais, em cada
autarquia quem sofre as consequências de escolher um mau candidato são os
munícipes. Logo a seguir vem a fatura: são os munícipes que sofrem com a
incompetência, o esbanjamento, o aumento de taxas e a ausência de sentido do
bem-comum.
O Marco de Canaveses já teve experiência de escolher quem levasse praticamente a autarquia à falência; e, a nível nacional, colocasse o Concelho ao lado dos países do terceiro mundo, entregando a água e outros bens públicos a privados e julgando-se dono do Marco.
Se votasse no Marco de Canaveses (como espero votar nas próximas eleições), preocupava-me com as questões que referi. E não descuidaria o facto de saber se o candidato tinha ou não dado provas de estar integrado na defesa de causas (como, por exemplo, pertencer à Associação dos Amigos do Marco), se era pessoa em quem se podia confiar porque não tinha cadastro, se tinha sentido de Estado ou era um aldrabão, se caiu de paraquedas na política e agarra-se a ela com a sofreguidão de quem espera um tacho, se é um vira-casaca, um camaleão, etc..
O voto é uma escolha que também nos define: é o nosso próprio critério de avaliação dos candidatos, o nosso sentido de
responsabilidade cívica que está
em causa. Se somos cidadãos honestos e responsáveis, faremos uma escolha que
esteja de harmonia com os valores da honestidade, sentido de Estado, espirito
de serviço e democrático; se não somos, podemos até escolher um oportunista ou
um “fora de lei” qualquer.O Marco de Canaveses já teve experiência de escolher quem levasse praticamente a autarquia à falência; e, a nível nacional, colocasse o Concelho ao lado dos países do terceiro mundo, entregando a água e outros bens públicos a privados e julgando-se dono do Marco.
Se votasse no Marco de Canaveses (como espero votar nas próximas eleições), preocupava-me com as questões que referi. E não descuidaria o facto de saber se o candidato tinha ou não dado provas de estar integrado na defesa de causas (como, por exemplo, pertencer à Associação dos Amigos do Marco), se era pessoa em quem se podia confiar porque não tinha cadastro, se tinha sentido de Estado ou era um aldrabão, se caiu de paraquedas na política e agarra-se a ela com a sofreguidão de quem espera um tacho, se é um vira-casaca, um camaleão, etc..
O voto é uma escolha que também nos define: é o nosso próprio critério de avaliação dos candidatos, o nosso sentido de
Numa altura em que as bandeiras já desbotaram a sua ideologia, a nossa escolha define mais o nosso carácter que o partido a que pertencemos. E haverá sempre quem nos julgue por isso, se a nossa consciência cívica não o fizer!
domingo, 10 de setembro de 2017
Lançamento de "uma união cheia de história"
Um volumoso livro, com óptima encadernação e um trabalho de investigação exaustivo, com título de capa “MARCO (a nova freguesia), UMA UNIÃO CHEIA DE HISTÓRIA” (seiscentas páginas). São seus autores o arqueólogo Luís de Sousa e o historiador Cristiano Cardoso.
A iniciativa pertenceu ao Presidente da Junta de Freguesia, António Santana, bom filho da Terra e, como bom filho,
sente por ela o que ninguém mais pode sentir: uma grande paixão que soma a três qualidades raras: a inteligência, uma invejável cultura e o sentido de empreendedorismo. Convidou para participar no evento a Associação dos Amigos do Marco, o que muito honrou esta Associação.
sente por ela o que ninguém mais pode sentir: uma grande paixão que soma a três qualidades raras: a inteligência, uma invejável cultura e o sentido de empreendedorismo. Convidou para participar no evento a Associação dos Amigos do Marco, o que muito honrou esta Associação.
Apresentou o livro a prof. Drª. Teresa Soeiro e o Prof. Dr. Jorge Fernando Alves. Participei neste evento (é raríssimo no Marco ser convidado para este tipo de eventos, o que não acontece em Amarante), com uma pequena reflexão, a pedido de António Santana, o que senti como generosidade sua, sobre três homens que têm sido esquecidos na minha Terra: José Monteiro da Rocha (1734-1819), criador do
Observatório de astronomia de Coimbra, reitor dessa Universidade e reconhecido como o maior cientista do tempo, em toda a Europa; Dr Fernando Monterroso (1875-1947), cirurgião-médico, interveio na campanha de Africa, salvando a vida a Mouzinho de Albuquerque, e na Primeira Guerra Mundial, comandando a primeira ambulância (uma espécie de hospital de campanha) e sendo director do Hospital militar do CEP na Flandres. É, por certo, o militar mais medalhado da história do Exército Português. Deixou grande parte da sua fortuna ao Asilo do Marco, que, a suas expensas mandou construir, e à Misericórdia do Marco, mas, hoje, até desapareceu a foto que lá havia sido colocada em sua honra. Mais próximo do nosso tempo, lembrei o Presidente da Câmara do Marco José Cabral de Matos (1949-1953), que se inspirou nas “cidade-jardins” para criar o Jardim do centro da Cidade, e a quem a União Nacional lhe fez a vida negra, obrigando-o a exonerar-se do cargo três anos depois de o ter assumido.
Observatório de astronomia de Coimbra, reitor dessa Universidade e reconhecido como o maior cientista do tempo, em toda a Europa; Dr Fernando Monterroso (1875-1947), cirurgião-médico, interveio na campanha de Africa, salvando a vida a Mouzinho de Albuquerque, e na Primeira Guerra Mundial, comandando a primeira ambulância (uma espécie de hospital de campanha) e sendo director do Hospital militar do CEP na Flandres. É, por certo, o militar mais medalhado da história do Exército Português. Deixou grande parte da sua fortuna ao Asilo do Marco, que, a suas expensas mandou construir, e à Misericórdia do Marco, mas, hoje, até desapareceu a foto que lá havia sido colocada em sua honra. Mais próximo do nosso tempo, lembrei o Presidente da Câmara do Marco José Cabral de Matos (1949-1953), que se inspirou nas “cidade-jardins” para criar o Jardim do centro da Cidade, e a quem a União Nacional lhe fez a vida negra, obrigando-o a exonerar-se do cargo três anos depois de o ter assumido.
Francamente, foi para mim um dia que me senti bem, não só pela importância de participar no evento, como pela honra que o presidente da Junta, António Santana, que conheci há pouco tempo, me deu.
segunda-feira, 4 de setembro de 2017
Uma união cheia de História
Foi um grande
filósofo françês, RICOEUR, professor do actual Presidente da República
de França, Emmanuel Macron (Quando este estudou Filosofia), que, apoiando-se em Santo Agostinho,
escreveu:”O tempo é uma
distensão da alma!
Medimos as impressões que
permanecem no espírito depois da passagem do tempo, e não as coisas que passam (…)
Os tempos (QUE PASSAM) indo embora, deixam uma espécie de espaço temporal (uma
extensão; como uma dobra no tempo) que a MEMÓRIA retém”. A memória de um povo, de uma comunidade, do
MARCO, é a sua alma.
O livro que vai ser apresentado no próximo
dia 8, dia de Nossa Senhora do Castelinho, que o Concelho em 1946 consagrou sua protetora
e tornou DIA DO CONCELHO, tem por titulo: MARCO,UMA UNIÃO CHEIA DE HISTÓRIA.
Para quem gosta do saber da MEMORIA, apareça no
AUDITÓRIO DO CENTRO PROQUIAL DE SANTA MARIA (Igreja do Siza), às 21h, e
regale-se com o que foi fazendo a identidade do MARCOquarta-feira, 30 de agosto de 2017
Um presidente esquecido
Para quem se depara com o Jardim Municipal do Marco de Canaveses e vê o busto de Adriano José de Carvalho e Mello, fundador do Concelho, também poderá pensar que foi ele o obreiro do Jardim.
A conotação tem uma carga política: fazer ostracizar o nome do Presidente da Câmara que levou à prática essa obra.
O fundador do Jardim Municipal foi o Dr. José Cabral de Matos, advogado, notário, Homem culto e de grande sentido de Estado, que presidiu à Câmara do Marco entre 1949-1953.
Entregou-se à nossa terra com paixão e apoiado na utopia das vilas e cidades-jardim, que procuravam atenuar o impacto entre o rural e o urbano, criou o Jardim Municipal.
Mexeu com muitos interesses instalados. O Dr. José Cabral de Matos bebia a ideia que, o romantismo alimentou, que as vilas deveriam ter espaços de convívio, não cortarem abruptamente com o espírito da ruralidade, disporem de locais de estacionamento fácil, proporcionarem conforto e agradabilidade aos que nela residiam e aos que a visitavam. No espaço onde foi construído o Jardim fazia-se a feira do Marco, uma das maiores do País, uma grande fonte de receita para o comércio local, e havia lugares de estacionamento junto à Câmara que ele entendia que não deveriam ser ocupados por interesses privados.
Certos sectores que dominavam o Concelho fizeram tudo para que ele se fosse embora, demitindo-se de Presidente da Câmara. E mesmo depois de deixar a presidência, foi propositadamente ostracizado, limpado o seu nome do Jardim, fizeram-se monografias que o ignoram e nem nos 150 anos do Concelho foi lembrado. A única referência elogiosa que lhe foi feita, depois de pedir a exoneração do cargo, foi pelo Dr. Francisco Vahia de Castro (nomeado para o substituir) que manifestou, por carta, a sua solidariedade para com o Dr. José Cabral de Matos e referiu que o Concelho lhe deveria agradecer os sacrifícios e a dedicação que lhe votou.
Já passaram muitos anos para que ressentimentos e egoísmos sejam esquecidos. É necessário trazer à memória o Dr. José Cabral de Matos, um homem bom que existiu no nosso Concelho. E, pelo menos, que uma placa, como as que enxameiam o Concelho, se multiplicaram até à exaustão por todo o lado, seja colocada no Jardim para trazer à memória o seu fundador.
Não haverá nenhum candidato à presidência da autarquia que tome como seu propósito concretizar esta ideia?!... Por que não partilhar esta proposta para forçar a sua concretização?
sexta-feira, 18 de agosto de 2017
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A maior perversão da democracia é o seu desvio para uma “democracia orgânica”, tão querida de muitos partidos. Nesse falseamento da democracia, o que conta é o amiguismo: só quem está com o presidente é que tem benefícios, as associações recreativas, culturais ou desportivas dominadas por gente de confiança do presidente são privilegiadas, um “verdadeiro intelectual” é o que nos jornais, nas redes sociais sabe tornar virtude os desvarios e erros do presidente e é isso que justifica a recompensa do presidente.
A política para a "democracia orgânica" é um jogo de ilusões que se faz pelo espetáculo. O que é preciso é fazer do mandato um festival que promova o presidente, que o torne homem sábio, sendo ele um ignorante, e exalte a vaidade como esplendor de sua proficiência.
A política para a "democracia orgânica" é um jogo de ilusões que se faz pelo espetáculo. O que é preciso é fazer do mandato um festival que promova o presidente, que o torne homem sábio, sendo ele um ignorante, e exalte a vaidade como esplendor de sua proficiência.
Sou contra isto e considero mesmo que isto não é democracia. Foi a política de um passado não muito longínquo que levou o meu Concelho à falência, o meu País à falência. Defendo o valor da critica, penso, como Descartes, que a crítica é o ácido que corrói o erro. Lutarei sempre contra a democracia orgânica que ainda faz escola entre muitos autarcas.
A democracia exerceu-se pelo uso livre da palavra e só com a Revolução Francesa apareceram os partidos, como hoje os consideramos. O maior teórico da democracia é, no meu entender, Karl Popper. Foi um filósofo da ciência e também da liberdade e da democracia. Escreveu "Sociedade aberta e os seus inimigos" Ora vejam o que ele diz nesta entrevista:
"Inicialmente, em Atenas, a democracia foi uma tentativa de não deixar chegar ao poder déspotas, ditadores, tiranos. Esse aspecto é essencial. Não se tratava, pois, de poder popular, mas de controlo popular.
(…)
Desde o início que o problema da democracia foi o de encontrar uma via que não permitisse a ninguém tornar-se demasiado poderoso. E esse continua a ser o problema da democracia.
(…)
Numa democracia, é essencial a consciência da responsabilidade, a responsabilização daqueles que detêm o poder e o exercem. Tudo gira à volta disso. Responsabilidade significa responder a uma acusação. É nisso que consiste, fundamentalmente, o ser responsável. Dar respostas às criticas e afastar-se quando essas respostas não forem suficientemente convincentes. Trata-se, por consequência, não de conduzir o povo, mas de dar satisfação ao povo.
(…)
Teríamos de ser democratas, ainda que se viesse a provar ser a ditadura economicamente mais eficaz. Não devemos trocar a nossa liberdade por um prato de lentilhas! Todavia, é evidente que a democracia é mais bem sucedida, e por uma razão puramente humana. Ela é mais bem sucedida porque a iniciativa humana e a força criativa do Homem estão natural e intimamente associadas à liberdade. Só se for possível falar livremente, poderemos desenvolver as nossas ideias. Sempre que numa sociedade moderna a criatividade e a iniciativa são reprimidas, as coisas correm pior para esses países do ponto de vista económico.
(…)
A riqueza é uma consequência da liberdade, da iniciativa e, sobretudo, da liberdade de expressão.
(Excertos de uma entrevista de Manfred Schell a Karl Popper)
sexta-feira, 4 de agosto de 2017
Habemus net!
Foi com o tema “A Cidadania como factor do
aprofundamento da democracia e do desenvolvimento ” que terminou o ciclo de
debates promovido, neste Verão, pela Associação dos Amigos do Marco.
Carla Queirós, representante do Movimento do
Comércio Tradicional, trouxe para a reflexão duas questões: a multiplicação de
centralidades dispersou os clientes, enfraqueceu o comércio e esvaziou as ruas
tradicionais. Situação que se agravou com uma requalificação que, copiando o
estilo pós-moderno aplicado a centros históricos (onde não há trânsito),
desenhou sentidos únicos, com passeios altos e um pavimento trepidante que
afasta os veículos, empurra os ciclistas para os passeios, dificulta o
estacionamento e, em eventuais casos de emergência, agrava a necessidade de
imediato socorro, criando problemas que podem ser trágicos, cuja responsabilidade
não deixará de recair sobre a Câmara.
Carla Queirós referiu-se, depois, ao sentimento que
existe entre os comerciantes de que as mais-valias do investimento autárquico
beneficiam as grandes superfícies, com as infra-estruturas que lhes são
disponibilizadas, e não trazem retorno para o comércio tradicional que
contribui com uma significativa fatia dos impostos que são cobrados pela
autarquia.
O sociólogo da U.M., Carlos Silva, fez a distinção
entre discriminação e exclusão e, utilizando o pointer-point, evidenciou com
números o darwinismo social da exclusão, levando os ricos a se tornarem cada
vez menos numerosos e mais ricos; e os pobres, cada vez mais e mais pobres.
Tomou a exclusão como conceito orientador da sua exposição e falou dos
diferentes patamares em que ela se evidencia. Referiu, inclusivamente, a
captação da discussão política pelo poder político que centrifuga o debate nos
partidos, com exclusão dos cidadãos, independentemente das suas cores
ideológicas ou partidárias.
Finalmente, o antropólogo Fernando Matos Rodrigues
referiu-se ao espaço público, como espaço dos afectos e da memória e, por isso,
complexo. Recusou o minimalismo pós-moderno (evidenciado na requalificação da
Cidade), que vê nas comunidades uma soma de indivíduos, valorizando apenas o
conhecimento tecnocrático, sem consideração pelos saberes espontâneos, emoções
e outros laços que fazem a vida em grupo e constroem a coesão social.
Gerou-se, depois, um interessante e caloroso debate.
Um participante sublinhou que a falta de discussão pública (privilégio apenas
de alguns ungidos) da requalificação da Cidade foi patente, inclusivamente no
facto de só depois de realizado o projecto de requalificação se dar conta que
um dos munícipes tinha ficado sem entrada para a garagem da sua residência. Um
outro interveniente lembrou que a natural expansão da Cidade seria para o rio,
donde provem a história do Concelho, e que foram os interesses imobiliários
ligados à anterior autarquia que perverteram este rumo e multiplicaram as
centralidades. Seguiram-se outras intervenções e, mesmo depois de ter terminado
o debate e fechado o auditório, cá fora, o debate continuou aceso, parecendo
não querer terminar.
Manifestou-se o apreço e a importância da presença de muitos
candidatos à autarquia e lamentou-se que outros tenham faltado, o que denuncia
a hipocrisia das preocupações que proclamam, quando se desinteressam pelos
debates que sobre a nossa terra são feitos. Parecem continuar a acreditar que,
na romaria eleitoral, lhes basta a cartilha das promessas avulsas. Pensam que
os eleitores gostam de seguir a cenoura que lhes apontam, sem precisar de
sentir os problemas que localmente são vividos e carecem de resposta. Talvez
por procederem como os “mercenários” que nas guerras só estão disponíveis para os
proventos da batalha!
Também houve quem referisse a incomodidade que os
responsáveis pela autarquia demonstram, quando alguma crítica é feita à sua
“obra”, e, na sua insensibilidade democrática, se alargam em cansativas
justificações que nunca convencem ninguém. É, de facto, um estilo que, numa tonalidade
mais doce, provem de outros tempos, lembra Trump à escala mínima, e não deixa
de ser reflexo da tentativa de monopolizar a discussão política, não saber
aprender com os cidadãos e exclui-los do uso livre da palavra - o que acaba por
evidenciar a actualidade da importância da AACMC, como fórum do uso livre da
palavra, sem a intimidação do poder e com a recusa de ser correia de
transmissão da propaganda dos interesses dos directórios locais dos partidos.
Sem o debate livre, o levar à prática o princípio de
que “o que é destinado aos munícipes não deve ser feito sem os ouvir”, não há exercício da cidadania; e sem cidadania
não há democracia. É incontroverso que a democracia emergiu do uso livre da
palavra na Grécia Antiga e os partidos
só apareceram com a Revolução Francesa. A doutorice funciona, hoje, como um
vírus da democracia que leva a satisfazer-se com uma representação dos
munícipes só por doutores e engenheiros. Depois, os outros cidadãos ficam sem
quem os represente nas assembleias municipais, que se vão transformando num
fórum fechado, entregue a interesses de grupos e à irrelevância das
questiúnculas, imitando, no seu pior, o ruído que acontece na Assembleia da
República.
A democracia que se fecha sobre os profissionais da
política ou na cegueira do elitismo, promove o dramático crescimento da
abstenção, torna os políticos numa classe arrogante, retira-lhes o prestígio, desenvolve
pulsões autoritárias e dominadoras.
A profissionalização da política é responsável pela
necessidade de eternizar a ocupação de cargos políticos e muitos autarcas,
impedidos de se recandidatarem, recorrem ao estratagema de passarem de
candidatos à presidência da autarquia para candidatos à presidência da
assembleia, com vista a retomarem a presidência da autarquia em próximas
eleições. É-lhes indiferente o risco de estilhaçarem o partido com divisões
internas, como já acontece em muitas autarquias. O que lhes interessa é manter
a carreira. Talvez, por isso, já se ouve os mais avisados a confessarem que
sabem em quem não votam, mas não sabem em quem vão votar.
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O elevado índice de abstenções, superior já aos
votantes, reflecte a descrença nos políticos. E a desilusão dos eleitores vai-se
tornando terreno fértil para os demagogos, seja a nível de uma autarquia ou de
uma nação. Ficam a votar neles, os menos cultos, os que acreditam na cenoura
que lhes colocam à frente!
A política-espectáculo formatou o pior defeito dos
autarcas ou de outro qualquer líder: o de pensarem que entre a ficção que
impingem e a realidade vivida, os eleitores correm atrás da ficção e esquecem a
realidade do dia-a-dia.
Não se pense, por isso, que transformar a Baiana
(que acidentalmente nasceu no Marco - só foi para evitar o risco de sua mãe abortar
no navio que levou o seu pai para o Brasil) numa bandeira eleitoral faz o triunfo
de uma candidatura! Não é, nem podia ser!... A Baiana não é fundante da
história do Concelho e privilegiá-la em relação aos que, no passado, mais
serviram a nossa Terra é uma injustiça. Logo, o busto que a fará lembrar é
efabulador, não gera significado, não passa de uma mistificação, consumida mais
por forasteiros do que pelos conterrâneos, e, mal as luzes do espectáculo se
apaguem, será esquecido pelos mais esclarecidos ou olhado com troça!
João Baptista Magalhães
quarta-feira, 26 de julho de 2017
No próximo dia 29, sábado, pelas 17 h, no auditório municipal do Concelho do Marco de Canaveses, (não às 16 h como estava previsto) realiza-se o último debate, promovido pela Associação dos Amigos do Concelho, subordinado, ao tema: “Cidadania como factor de aprofundamento da democracia e de desenvolvimento”.
São convidados para intervir a nossa conterrânea Carla Queirós, bacharel em gestão de empresas, sobre os problemas do comércio local e a pulverização de centralidades; sobre organização dos cidadãos,Manuel Carlos da Silva, sociólogo, professor catedrático da Universidade do Minho. Investigador do CICS. Nova Universidade do Minh. Coordenador do projecto de Investigação, “Modos de vida e formas de habitar nas ilhas do Porto e bairros de Braga financiado pelo F.C.T. Membro da direcção do laboratório de Habitação Básica. Ex- Presidente da Associação Nacional de Sociologia. Director do ICS/CICS. Ganhou o prémio Nacional Sedas Nunes com a obra “Resistir e Adaptar”. Publicou vários livros sobre as temáticas da sociologia do género, das lutas sociais, exclusão social e cidadania.E sobre espaço público,Fernando Matos Rodrigues. Antropólogo. Investigador do CICS. Nova- Universidade do Minho. Director do laboratório de Habitação Básica. Coordenador do Programa da reabilitação da Ilha da Bela Vista/ Porto. Curso de Doutoramento em Teoria de Arquitectura e Projecto Arquitectónico (Univ. Valladolid/Espanha). Doutorando em sociologia e antropologia do habitar. Prof de antropologia do espaço no Mestrado Integrado no curso de Arquitectura da ESAP (1991-2015) . Director da Revista Ruralia (1987-1994) e Cadernos ESAP (1995-1999). Autor de vários livros na área da habitação, cidade e espaço público.
Apareça!
terça-feira, 25 de julho de 2017
Voltando ao assunto
Franz Kafka escreveu um dia: “A
verdade é aquilo que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter
nem adquirir de ninguém. Todo o homem deve extraí-la sempre nova do seu próprio
íntimo, caso contrário ele arruína-se. Viver sem verdade é provável, mas não é
viver. A verdade é talvez a própria vida”.
Para mim, esta concepção de verdade é
um lema de vida. Há uma diferença entre verdade, opinião e critica. A verdade é
o que faz luz na nossa maneira de ver a vida, os outros e o mundo. Não há uma
verdade que seja uma cópia da realidade. Vemos o mundo pelos “óculos” que constituem
o nosso paradigma ou sistema de crenças. Os factos, os acontecimentos, a
realidade não fala por si, precisa que a interpretemos. E, in-ter-pre-tar, é ver por dentro (com a nossa maneira de ver),
fornecer o significado de algo; explicar, elucidar, segundo o nosso modo de
ver. Por isso, existem conflitos de interpretações: vemos as mesmas coisas, mas
damos significados diferentes, porque os nossos “óculos”, a nossa maneira de
ver é diferente.
A opinião é a nossa perspectiva, o
nosso ponto de vista. A crítica é o nosso desacordo, com a nossa verdade. Ela é
o resultado do nosso compromisso com a verdade. É mesmo indispensável e,
talvez, por isso, Descartes dizia que ela corrói o erro. Sem ela não há o
exercício da cidadania. A crítica é inerente à responsabilidade política. E ser
responsável é responder a uma acusação a uma crítica. Por isso, a crítica exige
confronto, direito ao contraditório, põe-nos em diálogo e ajuda a corrigir
erros que podem derivar de quem faz a crítica ou a ela se sujeita.
Tudo isto é muito diferente de atirar
com pedras e esconder a mão, com a cobardia e a falta de carácter das cartas ou
comunicados anónimos.
segunda-feira, 24 de julho de 2017
É triste, faz-nos estrangeiros na nossa própria terra, na terra onde Siza Vieira construiu uma igreja, símbolo da concórdia, da paz, da transparência e da fraternidade, mas é verdade.
Em alturas de eleições no Marco de Canaveses aparece, desde há muito tempo, um crápula (ou quem com ele aprendeu a ser canalha) que utiliza a escuridão do anonimato para dar andamento à sua tara anti-social. Surge quase sempre com uma “carta aberta”, uma espécie de tiro na escuridão da desonra. Quem não se lembra da “carta anónima” a um deputado? O estilo é o mesmo: constrói um inimigo, fazendo-se amigo de quem escreve a carta, mas o seu objetivo é servir um terceiro: o candidato do partido que lhe fará os jeitos que lhe interessam. É o estilo fascista utilizado nas campanhas negras das guerras frias.
Basta ler, com atenção, essa pseudo-carta para se perceber que o crápula conhece bem as funções da polícia municipal, da multa das motorizadas, das obras públicas feitas no Concelho e mostra (como convém!) a sua hipócrita preocupação com a queda de receitas camarárias.
Espantoso, sabendo-se do estado de bancarrota em que estava a Câmara numa outra legislatura!
Não será difícil encontrar o seu autor e entrega-lo à Justiça. Mas este problema das asquerosas cartas anónimas não pode ser só o do partido visado: tem de ser repudiado por todos os partidos que querem que a política tenha ética e que o Marco de Canaveses não seja terra onde os energúmenos podem andar à solta.
Como seria um gesto de elevado sentido político, se os partidos com candidatos honestos censurassem esta nojenta forma de fazer política?
Todos temos de ser solidários contra a política do nojo, da campanha negra! Não se esqueçam do poema de Brecht:
Como seria um gesto de elevado sentido político, se os partidos com candidatos honestos censurassem esta nojenta forma de fazer política?
Todos temos de ser solidários contra a política do nojo, da campanha negra! Não se esqueçam do poema de Brecht:
Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde".
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