Sei que Mário Soares ficará na História; sei que marcou os destinos da
Europa e de África; sei que Mário Soares foi um combatente contra o fascismo;
sei que Mário Soares foi perseguido e sofreu com a prisão e o exílio a defesa
dos seus ideais; sei que Portugal poderia ser outro sem Mário Soares, mas já
não sei se para melhor ou pior (não se pode falar sobre o que não
aconteceu!); sei muito sobre Mário Soares, aquilo que todos dizem e que alguns
ignoram; sei que foi talvez o político de quem mais aldrabices se disse e mais
se caluniou; sei que muitos falam de Mário Soares sem saberem o que dizem.
Mário Soares partiu e com a sua partida ficamos mais
pobres. É bom recordar a sua vida, a sua luta, o seu humanismo e a sua maneira
de ser! E convém não perder de vista o movimento que criou, os que aderiram às
suas ideias, os que construíram a obra que lhe atribuem. É que os grandes
políticos fazem-se pelas circunstâncias e, por isso, não será
displicente lembrar a propósito de Mário Soares os capitães de Abril e
fazer sobre tudo isto as perguntas que Bertol Brecht colocou num operária:
“Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas
Bertol Brecht
Sem comentários:
Enviar um comentário