terça-feira, 28 de novembro de 2017

Uma memória selectiva!


Fica-nos um desconforto enorme na alma, quando damos conta de que se vai apagando a memória dos que tanto deram às instituições de misericórdia do nosso Concelho. Já aconteceu com os Bombeiros e está a acontecer com o Hospital do Marco.
O Hospital do Marco já existia antes do Eng Carneiro Geraldes e outros homens bons promoverem a recolha de fundos que fez o grande cortejo de beneficência para lhe dar a grandeza que hoje tem. Se fosse vivo, tenho a certeza que o Eng. Carneiro Geraldes corrigiria o que hoje foi dito no Marco de Canaveses.
Conheço um caso que demonstra bem a personalidade do Engenheiro de Ariz. Um amigo meu concorreu à empresa de eletricidade de que Carneiro Geraldes era administrador, a “Chenort”. Esse meu amigo, pouco antes tinha sido preso pela PIDE e acusado de pertencer ao Partido Comunista. O Engenheiro recebeu-o e disse-lhe: “eu só quero que o senhor seja um bom profissional, não me interessa mais nada!”
Por isso, ele (meu amigo) revoltava-se sempre que ouvia falar de gente que o Engenheiro tratara bem e depois do 25 de Abril o traíram. Esse funcionário acabou por ser diretor da empresa em Vila Real, em Aveiro, etc. Ainda hoje é vivo e recorda-me isso sempre que falo com ele. E manifesta sempre uma profunda revolta contra os que foram ingratos a esse Homem de Ariz.
Porque o Eng. Carneiro Geraldes conheceu bem a ingratidão, tenho a certeza que hoje protestaria contra a pompa e circunstância de só falarem dele. Lembraria aos que o homenageavam que o Hospital do Marco foi inaugurado em 1929 por uma associação de marcoenses bons, de excelência, que criaram a “Associação Beneficente do Marco” que levou a cabo a construção do Hospital de Santa Isabel. Ele (Carneiro Geraldes) ajudou a transformá-lo num hospital moderno, mas não foi ele que o criou. Lembraria também o dr. Miguel Ângelo que ofereceu ao Hospital todos os seus instrumentos de oftalmologia e que a Gulbenkian doou-o de um aparelho de Raios-X moderníssimo para a altura.
Se queremos homenagear a memória de uma Instituição não podemos esconder alguns dos que se dedicaram a ela, de forma generosa e sem pedirem nada, só porque não são os mais notáveis. O problema das instituições de misericórdia é hoje funcionarem como empresas e terem á sua frente quem não conhece a sua história. São organizações fechadas e pouco já têm a ver com o sentido de “misericórdia” que lhes era dado noutros tempos.
Lembremos o Asilo que estava associado ao Hospital Santa Isabel e fazia todo o sentido! Foi substituído por um Lar da Terceira Idade construído nos terrenos da Casa dos Murteirados (um fidalgo que no Marco faleceu sem descendentes). Por certo há já muita gente que ignora que antes do Lar havia um Asilo construído a expensas do Coronel-Médico Fernando Monterroso.
Não esqueçam esta gente!
A memória de uma Terra, de um Povo, não pode ficar entregue ao espavento dos novos-ricos, os que fazem a seleção  dos que lhes dão mais proveito!
Precisamos de boas referências, referências de homens bons que precisam de ser continuados.

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