sexta-feira, 14 de outubro de 2016

CIDADANIA



Tendo por base os dados recolhidos nos censos de 2011, investigadores da Universidade da Beira Interior calcularam o índice de desenvolvimento económico e social, que lhes permitiu depois ordenar os municípios segundo o seu nível de desenvolvimento económico e social. Neste ranking o concelho do Marco de Canaveses aparece no 296.º lugar, num universo de 308 municípios, isto é, o 9.º pior concelho.
Ora, seria esperado que este estudo com ampla divulgação nos meios de comunicação social, provocasse nos cidadãos um sobressalto cívico e aos decisores políticos locais, no mínimo, exigisse uma explicação. Nem uma coisa nem outra. Nem os munícipes se questionaram, nem os lideres políticos locais ousaram ensaiar uma explicação. Segundo José Gil, “...E se tudo se desenrola sem que os conflitos rebentem, sem que as consciências gritem, é porque tudo entra na impunidade do tempo – como se o tempo trouxesse, imediatamente, no presente, o esquecimento do que está à vista, presente.”
Durante os últimos anos, a “dívida herdada” foi sistematicamente apresentada para justificar a não realização das obras que os munícipes reclamam. Um concelho cuja rede de abastecimento de água serve apenas, aproximadamente, 32% da população. Quando já se vislumbrava uma luz ao “fundo do túnel” para os marcuenses se libertarem desse espartilho (faltam oito anos para que a maior parte da divida seja liquidada) eis que, os mesmos que sempre a apresentaram para justificar a sua inacção anunciam que pretendem prorrogar por vinte anos esse constrangimento. Novamente o mutismo de uns e a aparente indiferença de outros.
Para Ramalho Eanes, a democracia portuguesa não é satisfatória porque “...não tem havido a preocupação de politizar os cidadãos desde a infância”. Segundo este veterano da democracia, a República de abril oferece todas as liberdades, mas esqueceu-se que é necessário criar cidadãos, sobretudo através da educação. Pouco se fez para que a cidadania adulta, exigente e participativa existisse.
No próximo mês de dezembro comemorámos o 40.º Aniversário das primeiras eleições autárquicas, uma das conquistas da revolução de abril, evento marcante para a afirmação do poder local e que contou com uma significativa afluência às urnas. Passado o “estado de graça”, constatamos que a participação dos eleitores na vida politica local tem vindo a decrescer. O direito ao voto, uma das conquistas de abril, hoje, não é exercido por uma percentagem elevada de cidadãos. Parece haver um “divórcio” entre os cidadãos e o exercício da cidadania. O debate politico está ausente.
A continuar assim, com responsaveis autarquicos a não darem resposta aos problemas desenvolvimentais do concelho, com uma vida civica moribunda, poderemos dizer que o Marco  deixou de ser “um buraco negro na democracia”?

António Ferreira

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