sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Uma conferência de Vargas Llosa


Jorge Mario Pedro Vargas Llosa é um escritor peruano, que foi prémio Nobel da Literatura em 2010.  Marcadamente existencialista, lutou contra a ditadura de Odria, em 1950.
Identifica os problemas existenciais com a qualidade da democracia e isso é a sua reflexão política mais interessante.
Na conferência que ontem pronunciou em Lisboa, considerou que a democracia  foi o sistema que mais contribuiu para a liberdade, para a paz e para uma existência saudável. O  seu conceito de existência pressupõe uma visão sartreana: existir é “ser-com-os-outros-no mundo”. Procuramos a felicidade na relação com os outros no mundo. Os outros não são o nosso inferno, mas o espelho onde nos reflectimos. Se  procuramos o bem dos outros encontramos o nosso bem.
O único sistema político que cria condições para uma boa relação com os outros é a democracia, mas é também o sistema mais vulnerável a retrocessos e a ameaças. Os perigos de retrocesso são, segundo Vargas Llosa, a demagogia e as desigualdades. E o seu maior risco é a corrupção. Nada corrói mais a democracia do que o enriquecimento ilícito. Referiu vários países onde essa gangrena está a desagregar a coesão social e com ela a democracia. Mas há ainda um outro risco: a falta de qualidade dos políticos, a sua ignorância e ausência de sentido de estado. Citou a demagogia como um instrumento fácil para o triunfo dos ignorantes. E a propósito referiu Donald Trump para sublinhar a desvalorização do conhecimento, da experiência e da sabedoria(um saber ligado à vida), quando a democracia perde as suas qualidades. E concluiu: “Donald Trump corre o risco de ser eleito porque não sabe nada sobre matéria alguma.”
A intervenção de Vargas Llosa estará amanhã presente em todos os jornais. Convém ler com atenção o que foi dito por ele. O descrédito da democracia, que por todo o lado é referido, é sobretudo culpa dos eleitores que se deixam condicionar pelo discurso fácil, que foi sempre o dos demagogos, e não criam exigências nas suas escolhas. E isto cada vez se torna mais evidente! Temos pago muito caro a falta de qualidade dos políticos que geram autarquias ou o governo da Nação.


João Baptista Magalhães

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