domingo, 9 de outubro de 2016

Gente decente (I)


Há uma questão que  quase desapareceu das nossas conversas: a necessidade de gente decente. Os mais velhos devem-se lembrar do conselho dos nossos pais: “não andes  com gente que não é decente”!
Os nossos “velhotes” pouco se preocupavam com o dinheiro ou a posição social de quem convivia com os seus filhos: o que queria é que fosse gente decente, que tivesse bons costumes, não faltasse à palavra, não vivesse da má vida e fosse sobretudo honrada.
Muitos de nós não vivíamos em democracia e,  para muitos de nós, a democracia era como uma espécie de utopia da gente decente. E é talvez porque esta utopia se interiorizou em nós que temos dificuldade em compreender um mundo, onde a democracia é dominante, mas gerida por malandros.
Estão a decorrer as eleições nos Estados Unidos: de um lado temos Donald Trump e do outro Hillary Clinton:
O candidato republicano nada tem a ver com a ideologia do seu partido e apareceu soltando todos os demónios que os republicanos combateram: a xenofobia, o sexismo, o racismo, etc.  Os seus apoiantes são os menos escolarizados nos Estados Unidos: os brancos, negros e sobretudo mulheres. Um denominador os une: gente que vive do seu trabalho ou que está desempregada.  Apoiam-no, mesmo sabendo que o que diz se vira contra todos eles. Dizem votar Trump não por aquilo que ele diz, mas por representar um candidato que não é do sistema
A candidata democrata , Hillary Clinton, é contra tudo o que diz a verborreia de Trump, mas mesmo assim só leva de vantagem 4 pontos. Por que será?!...
Hillary pertence à elite americana, está ligada á alta finança, nomeadamente à Goldman Sachs, e é pelo sistema que ela representa que não consegue convencer os americanos. É como se dissessem: não acreditamos na democracia desta senhora, porque  o sistema que ela representa nos oprime nas fábricas, nos segrega nas escolas, não nos trata na doença e faz-nos pagar o descalabro que levou os bancos à bancarrota.
Trump e Hillary são, para muita gente, duas faces da mesma moeda. Só Trump é favorecido por parecer a bandeira dos que estão contra o sistema elitista que domina os partidos nos Estados Unidos e no mundo.
É muito provável que Clinton ganhe o debate desta noite e as próprias eleições! Mas os diabos soltos por Trump continuarão a espalhar-se pelo mundo, como a dizer: se no teu País, na tua região, na tua autarquia, queres ganhar eleições tens de ser demagogo, populista, sexista e racista.
A política parece não estar para gente decente: ficou entregue a malandros! E a democracia começou a andar para traz, criando no horizonte a ideia de que dará lugar aos terríveis demónios da primeira metade do séc. XX.
Precisamos de gente decente, a nível global, nacional, regional e autárquico! É sobre essa gente decente, muito ignorada na minha Terra, no Marco de Canaveses, que vou escrever na próxima reflexão.

João Batista Magalhães

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